Ela me estendeu um pacotinho colorido, enquanto eu me despedia da redação. Disse que eu precisava ter um desses à mão na minha primeira viagem - e nas outras também. Era um Moleskine: caderninho preto, usado por gente como Picasso e Hemingway. Lugar onde as ideias começam a germinar, livres de censura, em rabiscos que parecem desprovidos de sentido. Fiquei encantada com a gentileza. Alguém poderia dizer que a "chefa" esava dando uma indireta, algo como "trate de não enferrujar".É verdade que esta repórter precisa urgentemente descansar da escrita. Dessa obrigatória, ofício, com número de toques contados para caber na página. Mas não é genial que sua jovem editora tenha a sensibilidade de perceber que as palavras de descoberta, assim como as muitas histórias dos próximos trinta dias, merecem um espaço para serem registradas? Ao me entregar essas páginas em branco, despidas de linhas, Camila me incentiva a fazer o que mais gosto, tirando toda e qualquer restrição cotidiana. Por isso, não há como apontar a caneta ali sem lembrar que estou de férias. Embarco amanhã, doida para forrar de letras cada centímetro.
Nath.

