quinta-feira, 18 de março de 2010

Moleskine

Ela me estendeu um pacotinho colorido, enquanto eu me despedia da redação. Disse que eu precisava ter um desses à mão na minha primeira viagem - e nas outras também. Era um Moleskine: caderninho preto, usado por gente como Picasso e Hemingway. Lugar onde as ideias começam a germinar, livres de censura, em rabiscos que parecem desprovidos de sentido. Fiquei encantada com a gentileza. Alguém poderia dizer que a "chefa" esava dando uma indireta, algo como "trate de não enferrujar".


É verdade que esta repórter precisa urgentemente descansar da escrita. Dessa obrigatória, ofício, com número de toques contados para caber na página. Mas não é genial que sua jovem editora tenha a sensibilidade de perceber que as palavras de descoberta, assim como as muitas histórias dos próximos trinta dias, merecem um espaço para serem registradas? Ao me entregar essas páginas em branco, despidas de linhas, Camila me incentiva a fazer o que mais gosto, tirando toda e qualquer restrição cotidiana. Por isso, não há como apontar a caneta ali sem lembrar que estou de férias. Embarco amanhã, doida para forrar de letras cada centímetro.

Nath.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Notification. Ou como uma "low cost" pode fuder a sua vida

O email da Ryan Air:

"Gostaríamos de avisar que ocorreu uma mudança no horário de seu vôo de Roma para Barcelona em 07/04/2010. Veja os detalhes abaixo.

Reserva anterior - Saída às 09:25; chegada às 11:05

Alteração - Saída às 06:35; chegada às 08:15"

Ryan Air, muito obrigada. Será bem tranquilo acordar às 3h e deixar o hostel com um avantajado mochilão nas costas para dormir num banco de aeroporto. Também não vejo problema em ficar num ponto de ônibus na madrugada com essa cara de turista de primeira viagem, considerando que o metrô estará fechado nesse período e uma corrida de táxi custaria, pelo menos, 60 euros. Ah, verdade: eu paguei 15 pelo voo. Tá, notification registrada. O perrengue deve render histórias depois, não?

quinta-feira, 4 de março de 2010

Roteiristas: metódico e controladora


No ponto de ônibus, uma amiga de redação pergunta o que falta agora, a um mês da viagem. Faço um check list mental.

Passagens: ok. Reservas em cinco hostels: ok. Seguro viagem e documentação: ok. Poupança: ok. Cartão de crédito internacional: ok. Mochilão com rodinha e roupas para o frio: ok. (...)

Respondo, com angústia de roer as unhas, que uma das coisas mais importantes ainda não foi resolvida. O roteiro. Ela desenha um sorriso. Não acho engraçado, mas estico os lábios por educação.

Um metódico e uma controladora viajando pela primeira vez para o outro lado do mundo sem mapa das cidades e do metrô, cronograma de atividades com data/horário/instruções para chegar e sair do local, quantidade de comida a ser ingerida por dia, planilha de gastos, guias sublinhados e anotações de amigos???

Desde novembro, quando compramos passagens, me comprometi a estudar a geografia, a história, o idioma, os costumes, as últimas notícias, absolutamente TUDO sobre cada um dos países. Queria conhecer bem para otimizar nosso tempo por lá. Estrategista. Cinco meses se passaram, a vida me atropelou e/ou fiquei com preguiça. No arquivo do Word, debaixo do título "roteiro" há uma infinidade de páginas em branco.

E pergunto a você, leitor: melhor planejar a viagem ou escrevê-la enquanto ela acontece?

Pouco antes de o ônibus estacionar, essa minha amiga encerrou a conversa (e, sem querer, me disse mais do que pode parecer):

- Nath, relaxa. Se perder também é incrível. Você vai descobrir muito mais nesses momentos.